Nos distúrbios funcionais esofágicos as novidades prendem-se com os critérios de exclusão que passaram a incluir a esofagite eosinofílica (EoE) e as doenças motoras esofágicas com obstáculo ao fluxo ao nível da junção esófago-gástrica e os distúrbios majores da peristalse, de acordo com a classificação de Chicago V3 para a manometria esofágica de alta resolução .O espectro da DRGE (já em Roma III considerado critério de exclusão) foi redefenido, sendo que a hipersensibilidade ao refluxo (esófago hipersensível) passou a ser considerado um novo grupo dentro dos distúrbios funcionais esofágicos e não DRGE. Este caracteriza-se, na pHmetria ou na pH – impedância, por valores de refluxo gastroesofágico em valores fisiológicos e correlação sintoma/episódio de refluxo positiva.
Na dispepsia funcional deu-se particular atenção aos sintomas. Definiu-se o conceito de incómodo dos sintomas dispépticos, sendo que os referidos sintomas só deverão ser considerados, quando o incómodo for tal que interfira com as atividades diárias. Foi igualmente definida a frequência mínima desses sintomas/semana. Passou, a incluir-se nos critérios de suporte, a existência frequente de sobreposição de sintomas entre os dois grupos de dispepsia funcional, assim como a possibilidade de estes doentes poderem ter sintomas ou distúrbios funcionais de outras partes do tubo digestivo, favorecendo a ideia de distúrbio funcional generalizado do tubo digestivo.
Os distúrbios da eructação foram redefinidos com base nos achados da impedância gastroesofágica e o conceito de aerofagia (usado até ROMA III) é atualmente considerado histórico.
Foi definida uma nova entidade (CHS), clinicamente idêntica à síndrome de vómitos cíclicos, mas etiologicamente relacionada ao consumo excessivo de canábis. O tratamento passa pela sua interrupção.
A dor abdominal (e o número de episódios em que ocorre por semana) passou a ser considerada o sintoma central dos distúrbios funcionais intestinais e desapareceu o termo “desconforto intestinal”. Sendo o que define o IBS, encontra-se também, em menor grau de importância, nos outros grupos (contrariamente a ROMA III onde pertencia exclusivamente ao IBS).No IBS foram definidos quatro subtipos de acordo com as características das fezes, segundo a Bristol Stool Form Scale (BSFS).
A síndrome de inchaço abdominal funcional (sensação subjetiva de dilatação), passou a incluir nos seus critérios o termo distensão abdominal (avaliada objetivamente pela medida do perímetro abdominal), agora designado (FAB/D), facilitando a avaliação destes doentes.
Surgiu um novo grupo (OIC), caracterizado por obstipação induzida por opioides. Sendo, um efeito secundário da droga é aqui incluído pela sua elevada frequência nos EUA (sendo motivo significativo de referenciação ao Gastrenterologista), por mimetizar a FC e por poder coexistir com outros distúrbios funcionais e/ou orgânicos gastrointestinais.
Este grupo, conhecido até ROMA III, por síndrome de dor abdominal funcional, inclui para além desta entidade, agora designada por CAPS - os critérios de diagnóstico não sofreram alteração - o NBS. Caracteriza-se, enquanto grupo, por se considerar que a dor tem origem central e por a base do seu tratamento ser a relação médico–doente de grande proximidade e confiança.
A síndrome de distúrbio funcional do esfíncter de Oddi pancreático, mereceu critérios de diagnóstico completamente novos. Na síndrome de distúrbio funcional do esfíncter de Oddi, biliar houve alterações importantes. Na classificação clássica dos distúrbios funcionais do Oddi: o tipo I passou a ser considerado relacionado com estenose e, como tal, orgânico, tratado por esfincterotomia e saiu da classificação. O tipo II, passou a designar-se por distúrbio funcional do esfíncter biliar, diagnosticado por manometria e tratado por esfincterotomia e o tipo III manteve os critérios, não estando indicados quer a manometria quer a esfincterotomia.
A incontinência fecal perdeu o termo funcional por se considerar que os grandes avanços nas técnicas diagnósticas, permitem encontrar alterações em quase todos os doentes, sendo no entanto difícil estabelecer a relação com os sintomas e, como tal, atribuir uma causa orgânica ou funcional aos mesmos. Nos distúrbios funcionais da defecação passou a incluir-se nos critérios de diagnóstico o IBS-C.
Dos quatro tipos de disfunção defecatória definidos na manometria ano-rectal, considerados no ROMA III, só os tipos I e II são considerados diagnósticos no ROMA IV. O tratamento por biofeedback com multicomponentes, surge como um grande avanço, sendo a terapêutica de primeira escolha nos doentes com dissenergia.
Dr.ª Teresa Freitas, Médica Consultora de Gastrenterologia no Serviço de Gastrenterologia do Centro Hospitalar de Vial Nova de Gaia/Espinho